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prestidigitação

quatro dias atrasado, augusto chegou em setembro

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Nega,

Nega tudo que já houve e não nos/te teve utilidade – mesmo no parnaso do fértil bonito que entretém e faz sorrir – porque tem feliz bastante pra você ser quando quiser. Não tem dor perene, só verde. Nega os espinhos que permanecem, tira-os da sua pata de leoa e come e descansa na relva. Seja a relva. Nega que me faz sorrir e me nega sorrisos também: estamos achando o equilíbrio entre o verbo e o substantivo.
Só de ser no carinho do sendo, da senda, do tempo. Só de ser do lado, em cima, embaixo, dentro e envolta. Só de ser a nega, a que nega, não a que renega ou de ser não ser a que mente mas a que menos mente e mais coraçoa.
Vai ser verbo, vai ser substantivo, vai adjuntar, vai nos quebrar, vai ser piada em linguistas saborosas. Vai ser gravada nas meninas. É, ternamente.
Não nega, não, nega, nega. Nega. Eu te amo, feito um trovão – várias vezes no mesmo lugar, sabe?

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O Beijo

Desatinado sem dois segundos pra pensar antes da próxima isqueirada. É uma despedida desse breve momento de deturpar-me em si e si. Esses lances de escada sempre parados, sempre parada, sempre esperando pra serem caminho.
Desço.
Seguro na mão o que vai me servir de recado. Seguro em mim o que me desce de garganta. Ouço confuso rapaz cantando no rádio.
Na outra mão, sobra suor arredondando o que eu segurava. Fico me vendo dar passos no bater da confusão.
Outro lance de escadas; outro negócio. Outra casa, a nossa.
Dentro dos cinco dedos que fecham o punho entrara o cabo pesado de um martelo barato. Os dedos não suados tinham a moldura que fiz em outra ocasião.

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Cobro Mora

Dois. Faz um frio danado pra cá de noite. E esquenta bem pelo dia. Daí fode tudo quando, por exemplo, você ganha um bonsai de estimação. Mas não importa, eu uso água bem gelada para regar e fá-lo cheio dos trejeitos que o computador ensinou. Em tempo, a árvore vai retomar a majestade. Dois meses. De junho a setembro. Nada com o que se preocupar.

Dois. Faz calor demais na minha rua. Desde que saí de Curitiba, tenho derretido pra caralho esperando pela Só nos cantinhos onde nos encontramos. Mas esfria bastante à noite. Como se o sol estivesse do outro lado do planeta, um horror. Mas nem ligo, bebo água gelada para refrescar e o falo desamolece de boa porque nem preciso disso. Em tempo, ela chega para me amar. Dois anos. De ontem pra hoje. Nada com o que se preocupar.

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Outra Vez no Don Juan

Seu Castaneda vem com esses papinhos de como ele conheceu várias cidades por causa do trabalho na auditoria, a vida toda. Da aposentadoria ele tirou umas costelas e fez o restaurante, para contrariar o que ele mesmo sempre disse, que nunca montaria um comércio. Das viagens, concluiu que comércio é ruim, e todos os hoteizinhos são simpáticos em quantidade proporcional às suas pulgas.

Sentou-se, essa vez, com uma cerveja, porque era sábado, na minha mesa e foi me contar sobre aquela mulher da pracinha, que era escandalosa sem mais. Era só um pretexto dele para sentar-se, oferecer cerveja para um freguês – sangrando levemente as contas do Don Juan, mas exercendo sua índole de velho que tem suas manias – olhar pra fora com aquele ar meio embasbacado e bonito e só falar qualquer coisa. Nunca incomoda, mas de vez em quando ele adoraria incomodar só pra testar seu roteiro para essas situações. Sempre achei que o objetivo do restaurante era ele expulsar um cliente só por tê-lo destratado, e quando eu o vi fazendo isso, umas semanas depois dessa vez a que me refiro hoje, fê-lo com tanto gosto que senti até medo de que fosse fechar o lugar, sua missão estava cumprida.

Perguntou-me pela onésima vez com o que eu trabalhava mesmo? Para ouvir a resposta por educação, descartar a informação e dizer que não vale de porra nenhuma esses trabalhos. Um rapaz na minha idade tinha mais é que arrumar algum trabalho que pudesse me fazer conhecer coisas novas, não só repetir a rotina e blá blá. Era quase como se se pudesse ler a frustração na cara dele, por já não aguentar sair por aí viajando e ter montado o comércio para se assentar. Perguntaria novamente sobre meu emprego, na semana seguinte, era rotineiro já. Às vezes acho que ele se senta na mesa de qualquer outra pessoa, ou sentar-se-ia, sem notar que não era eu e esperaria as mesmas respostas.

Que, inclusive, foi o ponto alto do papo desse dia. Foi o ponto que me fez guardar na memória aquele olhar babacado dele. Falando sobre como meu trabalho não levaria a nada e aquele discurso todo de que trabalhar desconfortável buscando um conforto era ilógico e “as pessoas fazem a mesma coisa sempre, têm a mesma resposta errada sempre, mas continuam fazendo, esperando que mudasse, é estúpido, tem uma frase de um cara sobre isso de fazer a mesma coisa e tal, sabe?” Daí que surgiu uma resposta que me fez ter quase certeza de que ele se lembrava de mim por mim, que me fez perceber que ele ouvia o que as pessoas falavam, apesar de ligar pouco, e não apenas esperava o protocolo social delas falando para chegar na sua vez de falar.

Porra, mas também não é como se eu tivesse um saco de opções para escolher uma, né?

Ele ouviu, apertou os olhos num silêncio que contrastou um tanto com o tom da frase, que acabou se expandindo no ecoar dos dentes. Prolongou mais um tanto a espera e era como se todo mundo ali estivesse esperando a resposta dele. Meu nervosismo e impaciência, que eu teimo em chamar de fobia social, mesmo sabendo que isso é uma coisa extremamente mais séria do que os meus tiques de individualismo, foram me ansiando e de fato eram todos os olhos olhando os olhinhos apertados dele que se desencurvou de sobre a mesa, solene e no controle de qualquer e toda a situação. Até se ele respirasse leve teria dado para ouvi-lo respirar. Disse então que gostou do que eu disse, mas que eu estava errado. E que todo mundo tem um saco, sim (e pelo tom, não sei se quis fazer disso uma piadinha, mas não ousei achar graça, na hora).

Sempre tem, toma jeito. Levantou-se e foi para a cozinha com o copo de cerveja suando na mão que tremia de vez em quando só para que ele fizesse algum exercício físico.

Quando terminei de comer e de tomar a segunda cerveja que pusera na mesa, ele ainda não tinha voltado, decidi entender como se fosse uma despedida mesmo. Levei uma semana a mais para voltar lá, que foi quando ele me tratou normalmente, não como se nada tivesse acontecido, mas como se algo tivesse mesmo acontecido, sorria velho e com gosto de estrada.

Eram de graça, mas paguei as cervejas no caixa antes de ir trabalhar.

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Por Falta De Dor

Ele acordou qualquer dia com uma péssima dor de cabeça, das que te divide em dois e te faz andar em volta, desnorteado, pra ver se naquele canto da sala, sentir-se-ia melhor. Não adianta e agora tem que lidar com uma mesóclise que já não deveria ter vida útil, meramente além da presunção. Essa dor de cabeça nele serviu, entre outras coisas, para que fosse criado, já que é um personagem e este fora seu motivo inicial. As outras coisas para que serviu a dor de cabeça incluem descer para ir comprar analgésicos, passar a não ligar tanto para o gosto da água da torneira mais, pisar no rabo de um cachorro por acidente e se irritar por ter se assustado, inclusive mas não somente.
Digo esse “não somente” como uma dica para a, de fato, grande mudança que houve nele, em decorrência dessa dor. E pode soar esquisito apresentar primeiro a sua grande mudança e depois, então, explicar como ele era previamente. Portanto não o farei. A dor já vai passando por outra mesóclise evitada. Como seu mundo inteiro está se desenrolando nessas palavras que estou ajuntando agora, todas as palavras influenciam toda a sua existência. Ele detesta gente presunçosa ou falsa. Fácil. Detesta ficar sem o que fazer no fim da tarde e se culpar, dentro do tédio, por isso. Ele entende que não é tão interessante quanto gostaria, já não entende porque não o é, já que o que o determinaria – ou poderia – seria apenas uma revisão e correção do seu universo. Ele meio que entende que é um personagem. Que tem um mundo só dele que, até o momento, constitui-se de um lugar de onde descer, analgésicos, rabos de cachorro, presunção, água mineral e água de torneira. Presumivelmente o restante do mundo emula o nosso e ele está agora um tanto surpreso de saber que há outra coisa em que basear-se.
Estava tentando decidir… Eu estava tentando decidir – melhor assim – qual seria o nome dele. Claramente, como far-se-á claro em algum momento, se já não o era suficientemente, ele é um personagem baseado em Arthur Dent. Não sei se sigo a lógica e anagramo as iniciais novamente, como o fez Douglas Adams. Ou, seguindo outra premissa, se faço um anagrama com as minhas iniciais, M. F., seria, então. Mas dessa forma, ele não seria tão claramente ligado ao Dent. Se bem que já se sabe que deveria sê-lo, o que automaticamente me alivia da responsabilidade de fazê-lo de outras formas mais claras. Não sei, contudo.
Uma das principais coisas que os conectam, além do fato de eu estar lendo a série no momento e querer que sejam personagens conectados – o que é a principal coisa de qualquer jeito – é que suas vozes se parecem. Assim como, desde que vi o filme, antes de começar a lê-los, sempre que o guia fala, fala na voz do Stephen Fry, sempre que Dent aparece, vejo a voz do ator que o interpretou e suas reações cronometradas.
De toda forma, perdi o fio. A grande coisa que mudou nele, devido à dor de cabeça excruciante, a coisa mais importante, foi a recém-descoberta pequena falta de consideração pelas normas. Ele era um cidadão de bem, sabem? Ainda o é, na verdade, só tem, agora, um novo senso de rebeldia. Muito pequeno para qualquer comparação com qualquer pessoa do nosso mundo, mas enorme em comparação com qualquer coisa que já houvera em seu mundo. Menos sutil do que gostaríamos, sua grande rebeldia é nunca mais usar vírgulas antes de mas durante uma sentença.
A razão de isso ser tão importante é que a) eu decido e b) agora ele sente-se dono de uma enorme liberdade (que é enorme basicamente por causa de a)). Tão enorme e brilhante que demorou/demorará um pouco para aprender a lidar com ela. Eu sei que parece pequeno, afinal é mas na verdade o tanto que isso começará a corroê-lo em tudo o que ler e escrever será um absurdo. Dotado de uma grande inutilidade e, portanto, beleza, o mas tornou-se/tornar-se-á seu casulo verde, de onde sairá resplandescente, sem tanta necessidade de portar-se ou reportar-se tanto mais. Liberará seu corpo discursivo de forma que agora será capaz de entender melhor várias ideias, por ter aprendido um pouco melhor como constroem-se as frases.
De toda forma, chegou à farmácia, comprou os analgésicos, subiu de novo para o apartamento para ver que não havia água no filtro. O que nos pode levar a crer que não há água mineral nesse mundo, como dito a priori mas provavelmente essa é apenas uma hipótese distanciada demais. Bebeu o remédio com água da torneira mesmo, a contragosto, o que foi minando o contragosto aos poucos. Sentou-se na sala escura, somente pela estética da cena, e esperou passar a dor. Pensou no cachorro no fim do rabo. Percebeu, então, que não havia feito nada de radical antes disso tudo começar, nada que pudesse causar-lhe dor de cabeça no final das contas, ainda mais uma tão estonteante. Conjecturou se havia bebido no dia anterior, viu que já eram oito da noite, poderia ter bebido naquela mesma tarde mas é tudo uma área cinzenta, o momento antes da sua criação. Decidiu, então, que a única razão plausível era que a sua dor resultava apenas do prazer que eu precisava ter para criá-lo, talvez por saudades de ver mesóclises, talvez por falta do que fazer, no final da tarde, talvez por um motivo maior mas provavelmente não.
Rebelou-se, ainda sem nome, exatamente nesta própria instância, percebendo o tanto que me incomodava. Sorriu, já sem dor, quando descobriu que tinha todo esse poder de alterar seu mundo. Fez com que sua sala escura se tornasse a sala de comando da Coração de Ouro (tudo bem, eu influenciei a decisão por esse lugar mais do que ele gostaria) só pra ver se funcionava. Funcionou. Fez aparecer um adesivo e uma caneta sobre uma mesinha de canto, que também aparecera a seu comando. Estava gostando demais daquilo. Já quase não se assimilava mais tanto com Arthur Dent. Não conseguia ver o que estava fazendo, curvou-se sobre o próprio corpo. Depois entendi que estava escrevendo algo.
Depois entendi o algo que estava escrevendo.
Posou triunfante sobre o centro da sala, escura novamente. Fez brilhar uma luz somente sobre si mesmo, onde via-se, no peito, o adesivo vermelho onde orgulhosamente lia-se “Hello, my name is… Ciro Jordan”.
Não gostei da parva referência sem graça ao populacho americano do adesivo. Não era para eu gostar. Não gostei, também, do fato de ele ter provavelmente escolhido a combinação mais feia e sem sentido de nomes, só para me irritar. Não seguiam um padrão, não saber-se-ia nada sobre ele a partir disso. Ele ainda triunfava, ignorando a minha última mesóclise, já inefetiva. Venceu; minha única alternativa – o que, por definição, é ilógico já que alternativa já presume uma contraparte – é fazer parar de existirmos.

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De Voluntas

Ontem eu cheguei aqui pra sentir cheiro de novo da cidade, essas coisas de saudades. Deise marcou em frente à igreja e lá fomos ver gente comer sopa por algum tempo, até desistirmos dos compromissos e irmos para um hotelzinho qualquer, atestar que eu só chegaria mesmo aqui amanhã. Ou hoje, no caso. Não deu tempo de ver uma cumbuquinha de isopôr ser jogada no lixo.

O chuveiro não esquentava direito, não ligamos. O Douglas insistia em se meter nos nossos assuntos (e a Fernanda, e o Bartô…), não ligamos. O vinho custou menos de doze reais, não ligamos. Ligamos mais para a noite ter acabado tão cedo. Ligamos nem para o café que veio picado.

Liguei meus sensores, essa manhã, para essa vontade estranha e extrema de roubar da Deise tudo o que pudesse. Ainda não são dez da manhã, eu acabo de me levantar e ela já está no trabalho. Preciso roubar principalmente o tempo e esse senso de responsabilidade, dela. Só Deise parece não ligar para acordar tão cedo. Disse-me até que se a gente tivesse como, acordaria tão cedo para trabalhar na mesma coisa, mas voluntariando. Achei nobre, mas igualmente um desserviço. Roubar-lhe o corpo, só de sacanagem.

Vou procurar trabalho, hoje. Vou cozinhar o almoço com menos de cinco reais, hoje. Vou gastar o resto do orçamento de almoço com chopes no fim da tarde, hoje. Vou tentar entregar os presentes que trouxe para amigas, hoje. Vou dar um jeito de ter onde morar mês que vem, hoje. Vou esquecer que semana que vem tem carnaval, tem carnaval, hoje. Vou me distrair de todas essas atividades, hoje, por causa só da Deise, que me acaba comigo. Vontade de tiver. Tambores, corações e mais liberdade do que o tanto com que a gente consegue lidar (até para escrever). Pegamos para dar uma relida num livro de uma amiga, esses dias, e fizemos alguns comentários. Devolveremo-lo-la quando der tempo, sempre com essa mania de usar uma palavra em alguma frase só porque deu vontade, mesmo sem ter sentido que aquela caberia no sentido desta.

Talvez devesse ter ligado para o vinho ser tão barato. Mas está tudo bem, pra gente, assim.

A gente se toca em lugares púbicos. A gente se desafia a passar o dia sem ou com roupa de baixo. E cumpre até se encontrar no fim do dia. A gente vai para São Paulo em breve.

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Bonsai

Alejandro Zambra matou Emília no começo e no final e, por sorte, ela tinha acento. Lido em 2013, esse é o livro que inaugura a seção Na Cama por ter sido o que primeiramente ligou Dois com Cris. E porque Julio e Emília provavelmente têm muito a ver com isso tudo.

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Embocado

Era naquela vez em que eu estava descendo para almoçar no Don Juan que aconteceu de a guria estar no salão, tinha uns quinze anos aproximados e acabava de se tornar vegetariana, pelo que eu pude reparar. Era, também, a namoradinha do neto do Seu Castaneda, dono do restaurante, era óbvio. Calhou de eu pegar o assunto, ao cumprimentá-lo de longe, num momento inoportuno, ou eu o achava. O neto mijava, Seu Castaneda acenou-me sem sorrir por excesso de almoço na boca. Sentei-me e pedi o de comer de sempre, com uma cerveja porque era terça-feira. Ouvi-a no susto que me deu de torcer o pescoço para olhar, no incrível que se soava o que dissera. Sentada à mesa, mas sem comer, olhava o avô do namorado almoçando – ovos fritos, arroz branco e salada – deu de ombros e um escarniozinho pelos dentes, apontou para o amarelo no prato e soltou: você sabia que está comendo um feto? Provavelmente todo o restaurante acompanhou meu pescoço no torcer-se do ultraje à surpresa. E foi de fato tal espanto pela sua rudeza que nos calou. O Seu Castaneda, pouco cavalheiro, soltou os garfos no prato com algum estrondo, olhou-a de cima quando se levantou, pesou um pouco mais o olhar, recolheu o prato numa mão, o copo de suco amarelo na outra e foi em direção à cozinha. Depois contou-me que nem teve cara de continuar a comer. Se já tivesse chegado a minha cerveja, provavelmente teria cuspido pelo tom e engasgado pelo conteúdo.

Isso tudo foi uns cinco anos atrás, há muito já não vejo o restaurante ou o Seu Castaneda, mas soube que o neto crescera e já não cumprira suas juras de amor eterno dos quinze anos. Hoje ao fazer minha omelete no café da manhã, retornou-me o comentário como um baque que interrompe a quinta do Beethoven. Meus grossos tratos e grande preguiça social não me permitiriam, de qualquer forma, dirigir-me à adolescente deslumbrada com o novo movimento. Na época, se me fosse possível, tentaria corrigir-lhe a rudeza, hoje talvez aplaudisse, mas corrigiria no que toca ovos mais se compararem à menstruação do que a fetos. Tive que pesquisar, logo depois do café da manhã, para me certificar de que poderia tê-la corrigido, num reparo inconformado de passado impossibilitado. Mas regozijei-me nesse conforto de uma lembrança que já não significa nada e em que eu poderia ter feito algo, mas fiz nada porque nada acabava por ser menos estrondoso de se fazer, ainda tilintavam os garfos no prato sobre a mesa perto da porta do bar e restaurante Don Juan, na placa amarela irreparável da Skol. Até cheguei a ponderar se ela teria sucedido em transformar o Seu Castaneda em vegano, por nojo ou convencimento. Mas provavelmente, não. Entretanto, fiz-me uma nota mental para esforçar-me mais antes dos comentários. Por exemplo, tenho que parar de usar madrigal como sinônimo de matinal.

Minha omelete se partiu.

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Raison d’Être Cris Para Dois (ou O Disclaimer Mais Pretensioso Que Pude Conceber)

Antes de tudo, ainda que a palavra musa seja substantivo feminino, o conceito não é. E a musa apresenta-se em momentos e sob peles diferentes para cada um. No nosso caso, se é que veio, me acompanha na pele de uma cumulação etérea que eu quisera chamar de vários nomes; via mais perfeitamente na cara de uma amiga chamada Cris na maior parte do tempo, mas era mesmo meu próprio ego falando e batendo nos meus dedos de escrever – ora, e o que mais seria? – e quando descia-me vontade de personificar, creio ter evitado ao máximo tais nomes.

Passou, pra mim, contudo, pela mentira bonita desse primeiro parágrafo, Cris a significar musa, com o impulso sempre-besta e pueril da Deise de me evocar a tietagem dessa persona. Cris nunca fora personagem, mas soía aparecer dentro do que eu escrevia, ou mesmo pairava sobre eles, julgando os neologismos e a pretensão babaca do meu traço ou dos caroços que eu não tirava do texto.

Mas já nos causava indecisão quando, ao começar um parágrafo numa conjunção adversativa, o preceito de que a Cris real pudesse se ofender de alguma forma com a menção não-autorizada. (Lembro que pedira, certa vez, para nunca escrever sobre ela.) Escreveremos tudo nela. Encaminhamos, portanto, a decisão do nome na direção de uma das personagens que teria o protagonismo dos nossos temas, a não menos etérea Emilia. Não uma boneca, não a que morre no final – ou talvez, afinal morrem todas as Emilias – não a que tem acento, contudo, não chegamos no patamar do que deveria ser elíseo. Dissemos, em discussão sobre deixar a Cris e o Para Dois caírem no desuso:

“Pensei em Para Nós, mas é pra ela – Emilia” – não falei? – “Não! Emilia Sem Acento. Emilia Sem Assunto.” Tanto me irrita o corretor automático riscar nossa Emilia de vermelho (já fez novamente). “Emilia Senha Cinco. Emilia Sabe Muito. Emilia do Bonsai” (Essa que morre no final) “ou Do Bom Pai (brega). Carta ao Pai. Carta a Emilia?” Respirei, ela não. “Ai, não consigo”, e entristeceu. Respirou, dessa vez, eu não. “Emilia Sem Domínio.” E depois ficamos mesmo com a Cris para nós dois, porque era mais sensato e compreendia todo o resto. Tornamos, contudo, todo o resto nessa justificativa abestada de porque vamos tão pouco a São Paulo. Por enquanto.

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Consequence

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