Raison d’Être Cris Para Dois (ou O Disclaimer Mais Pretensioso Que Pude Conceber)

Antes de tudo, ainda que a palavra musa seja substantivo feminino, o conceito não é. E a musa apresenta-se em momentos e sob peles diferentes para cada um. No nosso caso, se é que veio, me acompanha na pele de uma cumulação etérea que eu quisera chamar de vários nomes; via mais perfeitamente na cara de uma amiga chamada Cris na maior parte do tempo, mas era mesmo meu próprio ego falando e batendo nos meus dedos de escrever – ora, e o que mais seria? – e quando descia-me vontade de personificar, creio ter evitado ao máximo tais nomes.

Passou, pra mim, contudo, pela mentira bonita desse primeiro parágrafo, Cris a significar musa, com o impulso sempre-besta e pueril da Deise de me evocar a tietagem dessa persona. Cris nunca fora personagem, mas soía aparecer dentro do que eu escrevia, ou mesmo pairava sobre eles, julgando os neologismos e a pretensão babaca do meu traço ou dos caroços que eu não tirava do texto.

Mas já nos causava indecisão quando, ao começar um parágrafo numa conjunção adversativa, o preceito de que a Cris real pudesse se ofender de alguma forma com a menção não-autorizada. (Lembro que pedira, certa vez, para nunca escrever sobre ela.) Escreveremos tudo nela. Encaminhamos, portanto, a decisão do nome na direção de uma das personagens que teria o protagonismo dos nossos temas, a não menos etérea Emilia. Não uma boneca, não a que morre no final – ou talvez, afinal morrem todas as Emilias – não a que tem acento, contudo, não chegamos no patamar do que deveria ser elíseo. Dissemos, em discussão sobre deixar a Cris e o Para Dois caírem no desuso:

“Pensei em Para Nós, mas é pra ela – Emilia” – não falei? – “Não! Emilia Sem Acento. Emilia Sem Assunto.” Tanto me irrita o corretor automático riscar nossa Emilia de vermelho (já fez novamente). “Emilia Senha Cinco. Emilia Sabe Muito. Emilia do Bonsai” (Essa que morre no final) “ou Do Bom Pai (brega). Carta ao Pai. Carta a Emilia?” Respirei, ela não. “Ai, não consigo”, e entristeceu. Respirou, dessa vez, eu não. “Emilia Sem Domínio.” E depois ficamos mesmo com a Cris para nós dois, porque era mais sensato e compreendia todo o resto. Tornamos, contudo, todo o resto nessa justificativa abestada de porque vamos tão pouco a São Paulo. Por enquanto.

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